Chorar pela morte de pessoas
que amamos é algo natural até mesmo para os cristãos que creem na vida eterna.
A Bíblia relata casos de sofrimento pela morte de pessoas, por parte de parentes
ou pessoas próximas, como exemplo o texto de II Samuel 1: 11 e 12 em que Davi pranteou
e chorou até a tarde a morte de Saul e Jônatas. Deus nos dá a liberdade de sofrermos
com a morte dos que amamos.
Contudo, antes de lamentarmos a
morte, precisamos aproveitar a vida. Antes de prestarmos homenagens no funeral,
precisamos honrar em vida. Antes de chorarmos pela perda, precisamos agradecer
pela existência de pessoas que amamos. Antes de declararmos o quanto amávamos é
necessário dizer e demonstrar com atitudes que amamos as pessoas. Honrar um morto
é mais fácil do que fazê-lo em vida.
Sem adentrar em toda história
de Davi quando pecou com Bate-Seba, importante enfocar um detalhe que impressiona.
Desse pecado nasceu uma criança, mas ela morreu uma semana após nascer (II
Samuel 12: 15 a 23). Diz o verso 15 que “o
Senhor feriu a criança que a mulher de Urias dera à luz a Davi; e a criança
adoeceu gravemente”.
Enquanto a criança estava
gravemente doente, Davi (versos 16 a 19) buscou a Deus por ela, jejuou e passou
a noite prostrado em terra (verso 16). Ao sétimo dia, porém, a criança morreu.
Visto o sofrimento do Rei quando a criança estava doente, os seus servos temiam
contar-lhe o pior. Davi, percebendo o cochicho deles, perguntou se a criança
havia morrido. Foi então que confirmaram a morte. O medo da reação do Rei era
muito grande (versos 18 e 19). Mas, eis a surpresa.
Ao saber da morte da criança,
diz o verso 20 que “Davi se levantou da
terra; lavou-se, ungiu-se, mudou de vestes, entrou na casa do Senhor, e adorou;
depois veio para sua casa, e pediu pão; puseram-no diante dele, e ele comeu”.
O verso seguinte registra um grande espanto por parte de todos. Afinal, ao
saber da morte do próprio filho o Rei melhorou? Que estranho.
Davi então explica o motivo de
sua reação nos versos 22 e 23: “Vivendo ainda
a criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe se o Senhor se compadecerá
de mim, e continuará viva a criança? 23. Porém, agora, que é morta, por que
jejuaria eu? Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará a
mim”.
Em nenhum momento Davi está
menosprezando a morte, a dor por ela
causada nos que ficam e nem tampouco afirma que não se pode lamentar pelos que
morrem. O ensino deste texto é que devemos fazer tudo pelas pessoas, como por
exemplo: orar, buscar a Deus em favor delas, relacionar bem, demonstrar amor,
buscar reconciliação, restauração nos relacionamentos e perdão, enquanto Deus
permite que vivamos.
Muitos, porém, agem contrariamente
a Davi, ou seja, desprezam as pessoas, guerreiam contra elas, guardam amargura,
ressentimento, rancor, não perdoando, não orando por elas, vivendo como se as
pessoas fossem um peso e um problema para eles. Então, quando a morte chega e as
leva, muitos passam a honrá-las, a dizerem que eram pessoas queridas,
importantes, bênçãos de Deus, etc. É preciso experimentar estas coisas em vida,
para não lamentar depois da morte.
Foi o que fez o próprio Davi no
texto citado em II Sm 1:11 e 12. Ali vemos que Davi chorou e pranteou até a
tarde a morte de Saul e de seu filho Jônatas. O que não pode escapar dos nossos
olhos é que Davi havia honrado e buscado reconciliação e comunhão real com
estas duas pessoas intensamente em vida!
Infelizmente, é comum ouvirmos
em funerais o que nunca se ouviu em vida. O caixão recebe mais homenagens que o
lar e o morto é melhor considerado do que quando ainda vivia. Então, é preciso
que maridos e esposas, pais e filhos, irmãos, parentes, vizinhos, irmãos em
Cristo e amigos, busquem incessantemente reconciliação, restauração, perdão,
comunhão em Cristo com todos enquanto Deus nos permite viver. Agora é hora de
orar, perdoar, abraçar, valorizar e reconciliar.
Por mais que digamos coisas
importantes no funeral, por mais que honremos o morto, por mais que choremos
com sua partida, se não aproveitamos este exato momento em que vivemos para
amar o próximo como a nós mesmos, buscando reconciliação e perdão nos relacionamentos,
tudo o mais será em vão, por mais sincero que possa ser nosso sofrimento e
nosso choro. A hora é agora, como adverte Hebreus 3:15: “se hoje ouvirdes a minha voz não endureçais o vosso coração”.
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