PENSAI NAS COISAS DO ALTO

quarta-feira, 16 de abril de 2008

IMPURO OU PROFANO COMO FOI ESAÚ

Indubitavelmente, uma das piores trocas e negociações realizada que se tem notícia, foi feita por Esaú.
O fato não precisa ser contado em detalhes, pois é notório o que acontece. A leitura de Gn. 25:29-34 nos conta o que aconteceu. Em síntese: exagerando em sua necessidade (fome), Esaú vendeu seu direito de primogenitura a Jacó, seu irmão. Parece algo sem importância. Afinal, se o direito era de Esaú, ele podia fazer o que bem quisesse com ele, podemos indagar. A primogenitura dava ao primogênito o direito de ser abençoado pelo pai e de receber maior parte na herança. Era um privilégio e uma graça de Deus aos primogênitos (Gn 25: 31-34; 27:36). Poranto, o que Esaú desprezou, na verdade, foi a benção e a graça de Deus. Preferiu satisfazer sua necessidade física, no caso, a fome a preservar o que Deus lhe havia dado.
Dentre os diversos e preciosos ensinamentos que esta história traz para a nossa vida espiritual prática, queremos apenas enfatizar a exortação trazida no texto de Hebreus 12:16, que diz: “nem haja algum impuro ou profano como foi Esaú, o qual por um repasto, vendeu seu direito de primogenitura”.
Interessante observar que o versículo 14 do capítulo 12 de Hebreus, exorta-nos quanto à pureza e à paz na vida cristã, dizendo que sem santidade ninguém verá o Senhor. Uma advertência muito séria. Logo em seguida, o verso 16 diz para que não sejamos como Esaú, que foi impuro ou profano. É uma outra exortação importantíssima! Impuro porque seu coração preferiu as coisas materias às espirituais. E, profano, porque ele usou algo sagrado (direito de primogenitura), como sendo algo secular. Ele profanou a benção de Deus.
Mas, afinal, onde lemos que Esaú tinha costumes impuros ou profanos no passado? Não somos informados pelas Escrituras que Esaú era um homem promíscuo, imoral, com hábitos e atitudes pornográficos, uma pessoa que se dedicava a uma vida imersa em bebedeiras e orgias. Qual a razão então, de Esaú ter sido considerado impuro ou profano? Nossa cultura atribui impureza somente àqueles de vida pródiga. Àqueles que se embriagam, que vivem em festas noturnas, que fazem sexo livre, satisfazendo os prazeres carnais. É preciso dizer que tais pessoas são reputadas, corretamente, como impuras. Contudo, não temos informações de que Esaú fosse uma dessas pessoas. Muito embora Esaú não tenha sido uma pessoa de vida desregrada, a Bíblia afirma que ele foi impuro ou profano. É um alerta a todos aqueles que se julgam santos só por não fumar, beber e falar palavrão.
Partindo desta verdade incontestável, com a lição de Esaú é-nos ensinado que a impureza não é somente quando somos escravos de vícios sexuais, alcoólicos, tóxicos e outros quaisquer. Existem muitos crentes que vivem de forma moralmente respeitável diante da sociedade, de forma naturalmente saudável, mas que podem ser impuros ou profanos diante de Deus. Esaú é nosso exemplo clássico!
Qual a razão única de Esaú ter sido considerado um impuro ou profano então? Foi devido ao fato de ter trocado o espiritual pelo material. Esaú era um impuro espiritual. Ele trocou sua benção espiritual (direito de primogenitura) por um simples prato de lentilhas preparado astuta e maliciosamente por seu irmão Jacó, que sabia que seu irmão era homem do campo e iria chegar cansado e com fome. Jacó devia conhecer também a necessidade de seu irmão. Pegou-o pelo ponto fraco: o estômago! Mas a culpa foi exclusiva de Esaú. A Bíblia não diz que Esaú foi profano por causa da atitude de Jacó. Ao contrário, a atitude de Jacó seu irmão apenas evidenciou a profanação e a impureza já existente no coração de Esaú. Foi somente Esaú que foi considerado impuro ou profano. O golpe de Jacó sobre seu irmão é um outro assunto. Embora fisicamente Esaú pudesse não ser considerado impuro, espiritualmente ele o era. Esaú era um trabalhador, homem do campo, devia ser responsável, acordava cedo para enfrentar o dia na força do trabalho braçal. Talvez muitos o admirassem por ser homem do campo, rude, forte e bem disposto. Provavelmente, ninguém diria que Esaú pudesse vir a se tornar impuro ou profano diante de Deus. Muitos o defenderia, dizendo ser ele merecedor de bênçãos porque era trabalhador, embora fosse pecador como qualquer um de nós. O fato é que Esaú amava mais os prazeres da carne do que a Deus. Ele fez de tudo para satisfazer sua fome e sua necessidade material. Esaú era materialista. A troca que ele fez deixou isso muito claro. Não há o que contestar.
Esaú é apresentado a nós como alguém que tem desprezado as promessas de Deus, em contraste com as promessas de fé descritas no capítulo 11 de Hebreus. O contraste de Esaú com Moisés é forte. Moisés trocou os tesouros do Egito para sofrer pelo nome de Cristo, porque via e cria no galardão (Hb. 11:26). Esaú, ao contrário, só enxergou o prato de lentilha. Esaú não conseguia ver a promessa de Deus aos primogênitos. Ele estava com fome, era escravo da fome, era um imediatista. Provavelmente, Esaú também era ansioso, visto que sua fome direcionou e determinou sua escolha, não fazendo-o esperar por uma outra refeição. O que ele queria mesmo era resolver seu problema do momento, ainda que para isso, fosse necessário desprezar a promessa futura de Deus (Gn 25:29-34), o que de fato fez. Ele era profano, porque desprezou o espiritual, preferindo o prazer do momento. Para ele, a benção de Deus ao primogênito era desprezível perto da fome que estava. “De que me adianta ter o direito de primogenitura se vou morrer de fome”, exagerava Esaú tentando-se justificar diante do seu pecado. Evidente que Esaú não morreria de fome. E, da mesma maneira, fazemos nós em muitas áreas de nossa vida. Exageramos em nossas necessidades para justificar nossos pecados.
O pecado de Esaú não foi por uma troca qualquer. Por ser o primogênito, Esaú tinha direito o privilégio de receber o direito de primogenitura. Na verdade, Esaú desprezou seu lugar na linhagem das promessas da aliança. E o pior de tudo: Esaú não achou lugar para arrependimento, embora com lágrimas o tivesse buscado (Gn 27:38; cf. 2Co. 10:7). O fato de Esaú ter pecado é aceitável vindo de uma criatura caída, embora não seja recomendável. Mas, o fato dEle não ter conseguido arrepender-se é trágico! Uma verdade aqui merece destaque: o arrependimento é um dom de Deus. É a bondade e a benignidade de Deus que nos leva ao arrependimento, conforme Paulo nos ensina em Romanos 2:4. Não conseguimos nos arrepender quando quisermos. Até para nos arrependermos, dependemos do Senhor conceder-nos o arrependimento. Ou seja, não podemos viver como quisermos achando que conseguiremos nos arrepender quando quisermos. Isso é um forte alerta a todos nós a buscarmos desde já a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb. 14:12).
Portanto, com o exemplo de Esaú, concluímos que diante da sociedade e até mesmo da igreja a qual participamos, podemos ser considerados crentes “puros”, ou seja, sem vícios prejudiciais ao corpo, bem como, sermos pessoas trabalhadoras e até honestas nos negócios. Podemos ainda ser bons pais de família, bons patrões, confiáveis empregados, fiéis membros de igreja. Podemos também, ser pessoas que cuidam da saúde, fugindo da promiscuidade, envolvidas em amizades sadias e ainda assim, sermos impuros ou profanos diante de Deus. A questão é a mesma que seduziu Esaú: espiritual versus material. Temos amado e servido a quem: a Deus ou as coisas terrenas?
Devemos examinar-nos enquanto é tempo. Temos trocado a busca pela santidade a qual ninguém verá o Senhor por coisas terrenas? Os exemplos são muitos: temos amado mais o lucro do que a verdade, negociando nossa paz com Deus por um negócio mais lucrativo (I Co 10:31)? Temos mentido a nosso respeito para evitar danos causados pela pratica da verdade à nossa imagem (Ef. 4:25)? Temos manipulado as pessoas a fim de que sejamos protegidos em nossos pecados, evitando confessá-los (Tg 5:16)? Trocamos nossa boa consciência por uma piada suja (Ef. 4:32)? Trocamos nossa paz com Deus por uma revista pornográfica (Hb 14:12)? Trocamos nossa santidade por ambientes e amizades mundanos e impróprios a cristãos (I João 2:6)? Temos preferido amizades mundanas a amigos da fé (Tg. 4:4)? Temos amado o mundo e as coisas que há no mundo (I João 2:15 a 17)? Temos cultivado pensamentos de ganância, inveja, ódio (Fl 4:8)? Enfim, temos amado mais as coisas espirituais ou as coisas materiais?
Hoje, diante de Deus, você tem vivido de forma impura ou profana como foi Esaú? Lembremo-nos que tudo que plantarmos iremos colher (Gl.6:7) e que pode ser tarde demais para nos arrependermos, pois é a bondade de Deus que nos leva ao arrependimento (Rm. 2:4), logo o arrependimento é dom de Deus. Não temos a capacidade de arrepender quando quisermos. Dependemos da bondade do Senhor em conceder-nos o arrependimento! João já nos alterou sobre nossa total dependência, ao nos dizer no capítulo 15:5 que "sem Ele nada podeis fazer". Nada mesmo, nem nos arrepender por conta própria!
Então, todo aquele que prefere as coisas materiais diante das espirituais, todo aquele que faz da graça de Deus, do amor de Deus, da misericórdia de Deus algo sem valor, inexpressivo, substituível, ainda que diante da sociedade e da igreja ele seja considerado um bom crente, uma boa pessoa, um bom pai, diante de Deus ele não passa de um impuro ou profano como foi Esaú.
Alexandre Pereira Bornelli

Um comentário:

Adriano SP. disse...

Muito edificante!
Texto de ótima compreensão!
Obrigado!!! Paz