Sabemos que na vida cristã o que vale
realmente é a motivação do coração. Atos externos, por mais puros e certinhos
que sejam, não valem de nada para Deus, embora valham muito diante dos homens.
Deus conhece nosso coração e deseja levar-nos a viver a vida cristã com a
motivação interior correta em todas as áreas da nossa vida. Um desses aspectos
é a obediência. Precisamos aprender a obedecer corretamente, a ter prazer na
obediência. Deus nunca se agradou de sacrifícios, nunca quis obediência cega de
seus filhos. Antes, deseja levar-nos a entender que ao Lhe obedecermos
prazerosamente, estaremos glorificando o Seu nome, ao mesmo tempo em que
desfrutaremos de paz enquanto Lhe obedecemos. A obediência legalista, ao contrário,
traz condenação. Obediência por medo de Deus ou simplesmente porque Ele mandou,
demonstra que não entendemos a vontade Deus para nós. Quando nosso coração está
sem a motivação correta nossa obediência nos traz culpa, medo e tristeza.
Semana passada estava voltando de uma
longa viagem de carro e fiquei observando os radares na rodovia. Para os que
têm a motivação correta de viajar dentro da lei de trânsito, eles são uma
proteção. Porém, aos que desejam infringir tal lei, eles são uma ameaça e transtorno,
deixando-os indignados e raivosos. Mas, algumas lições pessoais aprendi com
isso. A primeira é que não podemos viver em desobediência constante à
Palavra de Deus e somente buscarmos obedecê-la quando na presença de algum
irmão na fé. A maioria dos motoristas fazem isso nas estradas, eles correm mais
que o permitido, ultrapassam onde não pode, mas quando se deparam placas
avisando que tem radar, hipocritamente, diminuem a velocidade por alguns
segundos, retomando-a logo após para seguir viagem em flagrante desrespeito às
leis de trânsito como vinham até então. Semelhantemente, a presença dos irmãos tem
servido de radar para aqueles que ainda não aprenderam o prazer de obedecer a
Deus. Imaginem o que tais pessoas não fazem quando estão num quarto de hotel
sozinhos, quando estão distantes de irmãos na fé, visto que obedecem apenas por
medo de serem pegos e de sofrerem alguma punição ou, mesmo, por medo de
decepcionarem alguém. Existem ainda os que respeitam as leis de trânsito,
porém, não o fazem por prazer em obedecê-las, não por entenderem que isso é o
melhor pra eles, não porque querem honrar as autoridades, mas porque querem ser
certinhos. É grande o número de motoristas que respeitam as leis de trânsito
com raiva dela, inconformados com o limite permitido, viajam dentro da Lei, mas
com o coração odiando aquilo, achando um absurdo as placas de limite de
velocidade e ultrapassagem. Em ambos os casos, a motivação está errada. Na vida
cristã ocorre o mesmo. Quando amor a Deus, a glória de Deus, a obediência
voluntária e prazerosa está totalmente fora de sua motivação, mesmo obedecendo
estamos desobedecendo porque o fazemos com a motivação errada.
A segunda lição é que desejamos
sempre o que é proibido. Na estrada é assim. Quando é permitido atingir a velocidade
de 100 km/h, queremos andar a 110 km/h. Quando a rodovia permite 110 km/h
avançamos a 120 km/h e até quando nos é permitido 120 km/h, insatisfeitos, dirigimos
a velocidade superior. Isto mostra o pecado do nosso coração em sermos sempre
insatisfeitos, sempre querendo o que não temos ou o que não podemos, e também
nossa rebelião em desobedecer as autoridades instituías por Deus (Rm 13). Temos
repulsa em obedecer porque odiamos estar debaixo de qualquer autoridade. Esse
pecado invade de forma mais destruidora nossa vida espiritual. Diz Martinho
Lutero que “diante da Palavra todos
precisam ceder”. Mas não é isso que vemos na maioria dos cristãos e em
nossa própria vida, muitas vezes. Resistimos aos mandamos por que nosso pecado
da soberba e do orgulho e de não querermos submeter a nada, nem mesmo à
inerrante Palavra de Deus fala mais alto. Veja a que ponto chegou nossa
depravação!
Aprendemos que podemos estar
desobedecendo a Deus enquanto lhe obedecemos. Como isto pode acontecer? Quando
obedecemos de forma legalista, por medo, por obrigação apenas ou por querer
mostrar que somos melhores que os demais. Nossa obediência deve ser fruto de
nosso relacionamento correto com Deus. Precisamos aprender a obedecer com
prazer, com alegria, sabendo que isso é a vontade de Deus para nós. Foi isso
que disse Andrew Murray em seu livro A
Escola da Obediência, pag. 84: “ Um
coração rendido a Deus em obediência sem reservas é a condição essencial para
progredir na escola de Cristo e para crescer no conhecimento espiritual da
vontade de Deus.” Logo à frente, na pag. 90, o autor completa dizendo: “ A obediência à vontade de Deus se mostra na
terna valorização da voz da consciência. Isso se mostra útil com respeito ao
comer e beber, ao dormir e repousar, ao gastar dinheiro e buscar prazer, que
tudo seja trazido à sujeição da vontade de Deus.” E, fechando, finaliza com
uma afirmativa exortativa: “Oh, quando
vamos aprender quão agradável é a obediência aos olhos de Deus e quão indizível
recompensa Ele concede ao obediente! A maneira de sermos bênção para o mundo é
sermos homens obedientes; conhecidos por Deus e pelo mundo por esta
característica única – uma vontade completamente rendida à vontade de Deus.”
Para as autoridades deste mundo, o que importa é a obediência. Ninguém irá te
perguntar qual a sua motivação por não estar infringindo uma lei. Desde que
obedeçamos, isso é o que importa. Mas, na vida Deus não basta apenas
obedecermos. Ele deseja que nossa motivação seja correta, Ele sonda nossos
corações e intenções e elas é que determinarão se estamos realmente obedecemos
como a Bíblia nos ensina ou se estamos simplesmente obedecendo de qualquer modo,
com outra motivação. Oremos a Deus, para que Ele sonde nosso coração nos
fazendo obedecer com a motivação correta, entendendo que isso O glorifica, que
é um testemunho correto ao Seu nome e que traz paz ao nosso coração.
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