PENSAI NAS COISAS DO ALTO

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O dever do homem e o cuidado de Deus.

Um assunto que sempre causa polêmica, pela dificuldade de se chegar ao equilibrio, é saber até onde vai o dever do homem e, onde começa a soberania de Deus.
Dentre vários textos bíblicos, há um em particular que nos ajuda a compreender bem o que está ao nosso alcance e o que está somente ao alcance de Deus. O Salmo 127:1 e 2 diz: "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela." Este salmo, primeiramente, nos ensina que nossa vida deve ser vivida na dependência do Senhor. Especificamente, os versos 1 e 2, transcritos acima, indicam que nem a edificação de casas e nem a vigilância da cidade podem ser bem sucedidas a não ser pela ajuda de Deus. Eis a questão levantada por alguns: "como Deus é quem edifica a casa e se é Ele que também guarda a cidade, pronto, tudo está resolvido." Negativo. Será que os que pensam desta forma dormem em suas casas com as portas abertas, ou, ao menos, destrancadas? Não é Deus quem faz tudo?
Vejamos que o Salmo tem uma condicionante. Ele começa com a preposição se. O Salmista não está dizendo que o homem não deve edificar a casa, que ele não precisa se preocupar com isso, que ele pode ficar à toa enquanto Deus a edifica. Tampouco, o mesmo Salmista está dizendo que não precisa de guardas nas entradas das cidades, como era o costume da época, pois Deus guardaria a cidade sem a ajuda dos guardas. Claro, Deus é Deus e, portanto, Ele pode edificar a casa sozinho e vigiar a cidade sozinho. Nisto não há dúvidas. Na realidade, Deus não precisa da nossa ajuda para nada. Ele é soberano e totalmente suficiente em Si mesmo. Mas, por sua livre escolha, Ele decidiu que o homem teria uma parcela de participação nisto. É importante dizer, abrindo um parênteses, que com relação a nossa regeneração não há qualquer participação do homem. Porém, na santificação diária, Deus decidiu que tivéssemos nosso dever de buscá-la e persegui-la. O autor de Hebreus, cap. 12 verso 14 diz: "Segui a paz com todos e a santificação sem a qual ninguém verá o Senhor." Por isso que há graus, niveis de santificação, porque nem todos a buscam conforme a vontade de Deus determina que a busquemos. Isso não é verdade quando o assunto é regeneração. Não existe cristão menos regenerado que outro. Também, no aspecto da vida comum do cristão, Deus decidiu soberanamente que o homem tenha sua participação e responsabilidade, embora o controle sobre o resultado não dependa dele (homem). O Salmista usa dois exemplos claros do nosso cotidiano que nos ajuda a entender que não podemos ficar sentados, na vala dos preguiçosos, orando para que Deus faça o que é o nosso dever. Um exemplo disso é tomarmos precauções de segurança. Fechar portas e janelas, erguer o muro da casa, usar alarme e travas de segurança nos carros, etc pode ser considerado como algo ao nosso alcance, como meios legítimos que Deus nos permite usar. Essa é a nossa responsabilidade. As consequências, se nossa casa será assaltada, se nosso carro será roubado, não está a nosso alcance. Não temos o controle sobre os resultados. Isto pertence a Deus. Quando tomamos as providências necessárias, não quer dizer que nada de ruim nos irá acontecer. Mas, que fizemos nossa parte e agora, devemos orar e entregar o cuidado e o resultado nas mãos de quem tem o controle total do universo. Vejamos que o Salmista teve o cuidado de dizer "Se o Senhor...". Isto quer dizer que podemos fazer tudo, tomar todas as providências, usar os melhores recursos contra roubos, perdas, até mesmo, na área da saúde podemos usar todos os melhores medicamentos, ser atendidos pelos melhores médicos, nos melhores hospitais, contudo, se o Senhor não estivesse acima destas coisas, nada disso teria sentido. Então não devemos fazer uso delas? Ao contrário, podemos e devemos. Entretanto, uma coisa não exclui a outra. Nosso dever de procurar bons médicos, de usar bons recursos não nos isenta de problemas e, muito menos, obriga o Senhor a fazer nossa vontade. E, também, se não usarmos bons médicos e se não tomarmos as precauções devidas na vida, estamos desprotegidos. Mesmo não usando estes benefícios a nosso favor, mesmo assim, Deus pode nos curar e nos proteger. Isto, porque nossa ação não gera uma reação em Deus. Deus não reage, Ele, simplesmente, age no seu devido tempo e conforme sua livre determinação soberana. Nossa relação com Deus não de troca, eu faço minha parte e agora Deus está obrigado a fazer o que eu quero. Deus faz a parte dele sempre, pois é fiel a Si mesmo. O fato é que Sua vontade nem sempre corresponde com nossas expectativas. E, graças a Deus por isso.
Portanto, conforme o Salmista diz, façamos nossa parte, usemos os recursos ao nosso alcance, mas saibamos sempre que tudo está na dependência total da vontade de Deus. Devemos trabalhar, guardar e vigiar, mas sempre confiando que é Deus quem controla todas as coisas. É o Senhor quem edifica e guarda, e Ele pode usar ou não o homem para isso. Nosso dever é ser diligente e fiéis em nosso dever. Cabe ao Senhor aproveitar nossa tarefa ou não. Nada do que fazemos tem sentido se Deus não estivesse no controle delas. Todas as coisas já foram predeterminadas por Ele, mas isto não nos isenta de fazer nossa parte, no que nos for permitido fazer. Na verdade a soberania de Deus não começa em algum ponto, como se em algum momento ela não existisse e a partir daquele momento, então, surgisse inesperadamente. A soberania de Deus está desde antes da responsabilidade do homem e prossegue por todos os atos e por todo o tempo. Ela não tem fim. Devemos concordar com a frase de um irmão do passado que disse: "Faça tudo o que Deus ordena, e aceite tudo o que Deus faz".
Alexandre Pereira Bornelli

Um comentário:

Oliveira disse...

Caro Alexandre

Mais uma reflexão oportuna.

Entendo sobre o assunto que a salvação é monergística, e a santificação mesmo que pareça ser sinergística na prática, em essência me parece que ela também é monergística pois quem opera em nós tanto o querer quanto o efetuar também é Deus.

Um grande abraço