PENSAI NAS COISAS DO ALTO

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

De quem é a culpa?

Desde que Adão e Eva pecaram (Gn 3) e que Adão transferiu a culpa para Eva e esta, para a serpente (Gn 3:12), o ser humano tem copiado e utilizado a mesma estratégia. Quando Deus perguntou a Adão, em Gênesis 3: 11 a 13: “Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?”. Então disse o homem: “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.”. Disse o Senhor Deus à mulher: “ Que é isso que fizestes? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.”, logicamente que Ele sabia de tudo, mas mesmo assim, Adão e Eva achavam que transferir a culpa resolveria o problema.
Não podemos achar infantil a atitude de Adão e Eva, pois fazemos o mesmo em nosso relacionamento com Deus. Quando algo acontece em nossa vida, é comum transferirmos a culpa para o outro. No casamento, um cônjuge culpa o outro pelos problemas; na vida da igreja, o pastor culpa as ovelhas pelo descompromisso com Deus, e as ovelhas, culpam o pastor pela falta de apoio espiritual. É uma briga eterna para ver quem será a vítima. É muito difícil alguém olhar para os próprios atos como sendo o maior responsável por eles. Em última instância, estamos culpando o próprio Deus por incrível que pareça, porque toda murmuração é contra Deus (Êxodo 16:8). Ao culpar Eva, Adão estava também, culpando a Deus que deu Eva pra ele. O mesmo aconteceu com Eva, que ao culpar a serpente, estava culpando Deus por tê-la deixado solta próximo a ela. São poucos aqueles que reconhecem seu pecado, dizendo: “a culpa é minha Senhor, sou eu que estou cego para os meus pecados, eu que troquei o Senhor pelo mundo; o temor pela irreverência; a comunhão pela festa mundana e a tua Verdade pela mentira do mundo. No casamento, Senhor, tenho sido o (a) culpado (a). Peço-te perdão pelos meus pecados.” Ah, se fizéssemos isto! Ah, se cada um de nós assumisse diante de Deus nossa própria culpa, nossos próprios pecados sem mencionar e analisar a culpa do outro. Marinho Lutero disse que “o reconhecimento do pecado é o começo da salvação”. Quando reconheço os meus pecados estou próximo de confessá-los, porque sei que são meus e de mais ninguém, e então, estou próximo também de ser liberto deles. É o que nos diz Salmos 32:5: “Confessei-te o meu pecado e a minha iniqüidade não mais ocultei. Disse: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniqüidade do meu pecado”; e também Provérbios 28:13: “Aquele que encobre as suas transgressões jamais prosperará, aquele que confessa e deixa alcançará misericórdia”.
Igualmente, na vida natural o mesmo acontece. Muitos processos judiciais existem porque as pessoas não querem assumir a culpa dos seus atos; diversas brigas nos esportes surgem porque nenhum atleta quer assumir a culpa pelo que fez. Quando ocorre um acidente de trânsito ninguém assume a culpa. Quando os filhos brigam com o amigo, a culpa é sempre do filho do outro. No casamento, sempre transferimos a culpa para o cônjuge. Adão e Eva são recordistas de seguidores espalhados pelo mundo, mesmo milhões de anos antes da invenção do twitter! Todos npos queremos transferir a culpa como eles fizeram!
Portanto, se queremos nos afastar desse pecaminoso caminho da transferência, se queremos crescer e amadurecer em nosso relacionamento com Deus e com o próximo, precisamos encarar a verdade e assumir diante de Deus nossa culpa sempre que ela ocorrer. Sabemos que a coisa mais fácil de confessar é o pecado do próximo. Contudo, somos exortados pela Palavra a confessar os nossos próprios pecados. É o que nos ensina I João 1:9: “Se confessarmos os nossos pecados...” Confessar os próprios pecados não é dizer: “Senhor, eu errei MAS minha esposa, meu marido, meus filhos, meus amigos, etc fizeram isso e aquilo também”. A cruz só tem lugar uma pessoa de cada vez. Foi o que Davi fez após pecar com Bate-Seba, em sua confissão no salmo 51:4: “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que era mal perante os teus olhos.” Davi não transferiu a culpa do seu pecado a ninguém, nem mesmo a Bate-Seba, ele não dividiu sua culpa. Ao contrário, assumiu seu próprio pecado sem mencionar mais nada e ninguém, por isso experimentou o perdão de Deus! Que esta seja também nossa atitude, bem como a nossa confissão!

Alexandre Pereira Bornelli

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Nossas palavras são ecos do nosso coração.

Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”.             Êxodo 20:7

Este 3º mandamento ainda nos exorta em nosso relacionamento com Deus. Sabemos que os 4 primeiros mandamentos falam do dever do homem para com Deus e os 6 últimos, do nosso relacionamento com o próximo. Aqui aprendemos a respeito da exigência de Deus quanto a forma reverente ou o correto espírito de adoração, nos exortando para não tomar o nome de Deus em vão. Por acaso, usamos o nome dos nossos pais em vão? Não, se os amamos de verdade. Portanto, vemos como Deus quer nos ensinar que devemos nos relacionar com Ele com temor (Pv 1:7). Quanto mais se relaciona corretamente com Deus, mais reverentemente O tratamos com realidade. Qual então, a razão para esta advertência? Porque tanta preocupação? Acaso dá azar falar o nome de Deus em vão, ou sorte para quem não o faz? Evidentemente que não. A verdade é que o nome de Deus representa tudo o que Ele tem revelado a Seu próprio respeito: atributos, autoridade e palavra. Entretanto, vivemos numa época em que o ar está poluído de profanidades e coisas vãs. Quase não podemos assistir televisão, ler um livro ou escutar música sem ouvir o nome de Deus tomado em vão. Na verdade é um ataque à santa pessoa de Jesus. Profanar é desonrar aquilo que é santo ou digno de respeito. Quando tomo em vão ou profano o nome de Deus, tento fazê-lo descer ao meu nível, reduzindo-o ao meu tamanho. Quando amamos alguém, não falamos sobre ele em vão, não trazemos seu nome em assuntos que o desonraria. Como podemos continuar então, participar ativa ou passivamente de assuntos e lugares onde o nome de Deus é tomado em vão, é dito como algo banal e até zombado? Gálatas 6:7 nos adverte: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba, pois tudo que o homem semear isto colherá”. Porém, infelizmente, é comum artistas e jogadores dizerem “o cara lá de cima”, achando que estão demonstrando intimidade com Deus, quando na verdade, evidenciam total ignorância a Seu respeito. Quando difamamos o nome de Deus, quando contamos piadas sobre a Bíblia, quando assistimos algo que ridiculariza Sua pessoa ou as Escrituras, quando invocamos Seu nome que não para O glorificar é sinal de que não há temor de Deus em nosso coração. Não podemos dizer: “fulano toma o nome de Deus em vão, mas tem um ótimo coração”. Não, isso não é verdade! A Bíblia afirma que a maneira como falamos revela nosso coração (Mateus 12:34). Por isso Deus está preocupado com o que dizemos, porque sabe que nossas palavras revelam o tanto que O amamos. Isto tem a ver até mesmo com nossas orações, pois quando oramos e no final dizemos “em nome de Jesus” dizemos que Ele concorda e autentica nossas palavras. E, se pedimos coisas ou falamos algo para satisfazer nosso ego e vontade própria, usamos o nome de Jesus de forma errada. Nossas palavras são ecos do nosso coração!
Aprendemos, portanto, que devemos cuidar do nosso coração para que realmente tementes a Deus, não venhamos a profanar ou tomar Seu nome em vão em nosso dia-a-dia, seja como expressão de desabafo, alegria e até medo que não seja por um motivo correto de glorificá-lo e de fazê-Lo conhecido entre as pessoas.


Alexandre Pereira Bornelli

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Imagens vazias

"Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás: porque eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso.”    Êxodo 20:4,5

Para relembrar, vimos que o 1º mandamento nos ensina a quem devemos adorar, enquanto que este 2º mandamento, nos ensina como Deus deve ser adorado. Ou seja, proíbe qualquer adição ou invenção na adoração ao Deus verdadeiro.
Percebemos então, que Deus está realmente preocupado com nosso coração, com onde estamos dedicando nossos afetos, investindo nosso tempo e nossa vida (PV 4:23).
O enfoque do 2º mandamento é que Deus deve ser adorado de acordo com as Escrituras, não devendo ser retratado ou representado através de escultura ou mesmo pelas coisas presentes na natureza (Êxodo 20:4-6; Romanos 1:23). Isto está extremamente próximo da idolatria, igualmente proibida pelas Escrituras. Com a idolatria, nós provocamos a ira de Deus ao darmos a outro ou a alguma coisa a glória devida a Ele (Isaías 48:11; Romanos 1:23). Esta preocupação é urgente e real, porque estamos sendo tentados todos os dias a adorar outras coisas no lugar de Deus. Noutras palavras, Deus está nos dizendo para não guardarmos outras imagens em nosso coração, para não procurar um deus falso ou algo para dedicar nossos afetos, tempo e vida. Aqui então, nos cabe a pergunta: “temos alguém ou alguma coisa em nosso coração mais importante do que Jesus Cristo?“ Se temos, estamos na idolatria. Vejamos o que a Bíblia diz sobre isso em I João 5:21: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos”. Matthew Henry diz: “Desde que você conhece o Deus verdadeiro e está nEle, permita que Sua luz e amor o guardem de tudo que se opõe a Ele, ou compete com Ele...Agarre-se a Deus pela fé, amor e obediência constantes, em oposição a todas as coisas que possam afastar sua mente e coração de Deus.” Essas imagens proibidas, objetos de adoração, tanto podem ser coisas materiais (Mateus 6:24) como pessoas.
Portanto, quando todo o propósito da minha vida é perseguir uma dessas imagens, já escorreguei para a idolatria. Sabemos que ídolos e imagens falsas roubam os dias de nossas vidas e ficamos sem nada. Sem paz. Sem satisfação. Os ídolos são qualquer coisa que tire o nosso foco de Deus. A idolatria surgiu da inimizade natural do homem contra Deus (Romanos 1:21-23) e tem permanecido até os dias de hoje. A verdade é que os homens por natureza desejam remover Deus o mais longe possível de suas vidas, preferindo adorar alguma coisa que represente Deus do que tratar pessoalmente com o verdadeiro e único Deus Santo. E a conseqüência é que nos tornamos semelhantes com aos deus que adoramos (Salmo 135: 15 a 18).
Que Deus nos liberte desse terrível pecado de adorar imagens e a criaturas no lugar do Criador.


Alexandre Pereira Bornelli

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Diga não a concorrência


Êxodo 20:3 - "Não terás outros deuses diante de mim".

Todo atleta acha difícil ser o numero 1. Porém, mais difícil do que ser o primeiro é manter-se no topo.
Da mesma forma, o maior desafio da nossa vida é manter Deus em primeiro lugar diante de tantos deuses concorrentes que querem ocupar nosso coração! Nosso maior desafio é manter um relacionamento íntimo, pessoal e crescente com Jesus Cristo. Provavelmente, muitos de nós já tivemos Jesus Cristo como nosso amor maior, como a pessoa mais importante à qual dedicamos nossa vida. Mas, infelizmente, pelas distrações e preocupações da vida, outros deuses, como: dinheiro, poder, fama, lazer, prazer, família, têm invadido nosso coração e sido prioridade em nossas vidas. Poderíamos resumir, dizendo que nossa principal tarefa como crentes é verificar que nada, nem pessoas, objetos, tarefas, deveres ou prazeres estejam ocupando o lugar que Jesus deve ocupar em nossa vida, prioridades, planos e afeto. É evidente que isso não é simples! Jesus disse em Apocalipse 2:4, que ao povo piedoso da igreja de Éfeso que era eles trabalhavam duro, mantinham vivas suas esperanças, doutrinariamente eram sadios e suportavam pacientemente os sofrimentos pelo Senhor. Mas, o Senhor disse que estava a ponto de perder Sua luz e testemunho no mundo, porque “abandonaste o teu primeiro amor”. Ou seja, Deus não era mais o primeiro para a igreja de Éfeso. Talvez o ativismo fosse, mas Deus não era. Devemos entender que Deus não quer que tenhamos outros deuses porque Ele mesmo quer ser o nosso Deus, porque sabe que nada deste mundo pode nos preencher e nos tornar realmente felizes.
Quando Deus então é o centro, o primeiro em nossa vida, quando nosso coração não tem outros deuses concorrendo com o verdadeiro e único Deus, algumas evidências são visíveis em nossas vidas. A primeira, é que no lugar das excessivas preocupações e ansiedades, nascidas de um coração dividido, passamos a desfrutar de confiança em meio às dificuldades da vida (Sl 56:3 e I Pe 5:7). Calvino disse: “Senhor, enquanto eu não descanso totalmente em Ti, sou um peso para mim mesmo”. Noutras palavras, enquanto o Senhor não for o primeiro em minha vida, sou um peso para mim mesmo! A segunda evidência, é que as demais coisas se ajustam em seus devidos lugares em nossa vida (Mt 6:33). Passamos a viver uma vida mais em ordem, em conformidade com a Palavra de Deus. A terceira, é que causamos impacto sobre as pessoas, pois não é possível ter Deus em primeiro lugar e as pessoas terem bom testemunho do amor de Deus em nos preservar em meio a tanta idolatria.
Portanto, devemos eliminar hoje mesmo outros deuses que estão tentando roubar o lugar do Senhor Jesus em nosso coração a fim de experimentarmos uma integridade e uma vida em plena comunhão com o Senhor. Para identificar se temos outros deuses, basta respondermos às perguntas: a) o que mais amamos?; b? no que mais falamos? ; c) no que mais pensamos?; d) no que mais nos alegramos?
 Diga não à concorrência em seu coração. Não tente servir a dois deuses (Mt 6:24).

Alexandre Pereira Bornelli

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A falsa pedagogia do pecado.

Somos seres racionais, desenvolvidos e inteligentes. Fabricamos grandes máquinas, tecnologia de ponta, as engenharias evidenciam a criatividade do homem, os livros, sua intelectualidade, os esportes, suas habilidades e todas as profissões, sua capacidade. Aprendemos muito com outros através de livros. Contudo, uma coisa é fato: na vida cristã aprendemos muito pouco, abaixo do mínimo exigido, com o pecado dos outros. A história nos comprova isto. Quantos jovens que idolatravam artistas e cantores que morreram de overdose abandonaram as drogas depois que viram o triste fim do seu ídolo? Alguém será capaz de deixar definitivamente a bebida e as drogas depois de ver o triste fim da jovem cantora Amy Winehouse? E quem abandona o sexo livre e descompromissado, fora do casamento, só porque um conhecido morreu de AIDS ou de outra doença? O pecado dos outros nos estimula a abandoná-lo? Não. Ao contrário, ele pode nos atrair. Embora sejamos potencialmente capazes de todo tipo de pecado (Marcos 7:20 a 23), podemos não ter como nosso “calcanhar de Aquiles”, as drogas e a bebida, mas talvez, sejamos mais vulneráveis à vida promíscua, à sexualidade pervertida, ao consumismo, a glutonaria, a sensualidade e inveja. Mesmo vendo a vida deprimente que levam as pessoas que se entregam a este tipo de vida, não conseguimos nos desprender deles também, muitas vezes. E não é por falta de tentativas. Pois, com boas intenções, muitos encaminham e-mails com as fotos de artistas antes e depois das drogas e bebidas para causar impacto nas pessoas, para que abandonem tal caminho. No momento que se vê as fotos, realmente, somos impactados, mas o efeito pedagógico do pecado passa rapidamente. Fotos, mortes, sofrimentos, internações, falências, separações e tantas outras desgraças deste mundo não são capazes de transformar ninguém por si mesmo. O pecado dos outros não nos afasta dos nossos, pelo menos não como deveria afastar. Mesmo vendo reportagens trágicas, logo os que são atraídos pelas drogas, voltam a se drogar; os atraídos pela bebida, voltam a beber; os amantes da velocidade voltam a correr; os glutões se permitem comer incontrolavelmente e os promíscuos se atolam na novamente na promiscuidade. Não é apenas vendo o triste fim dos outros que os jovens deixarão o pecado, a vida torta e mergulhada em seus pecados e prazeres carnais. Quem já leu na Bíblia a história do filho pródigo (Lc 15:11), por exemplo? Contudo, quantos jovens têm feito as mesmas escolhas que ele, embora sabendo do triste fim que ele teve? Por outro lado, deveríamos aprender com José a fugir do pecado (Gn 39), mas infelizmente pouco o imitamos. E quantos ainda adulteram mesmo cientes das terríveis conseqüências ocorridas na vida de Davi (Sl 32)?
Nenhum tipo de medo, que seja o medo das conseqüências das drogas e até o medo do inferno são capazes de nos libertar da escravidão do pecado. O que então é capaz de causar profundas transformações e nos libertar da vida de escravidão do pecado? A Bíblia diz em João 8:32: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” e, no versículo 36, diz: “Portanto, se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. Não há outra forma de ser livre do poder do pecado, deste mundo e dos prazeres carnais se Jesus não nos libertar deles. Somente um encontro e uma entrega pessoal a Jesus Cristo é capaz de uma real transformação. Somente quando o Espírito de Deus nos faz ver o amor de Deus demonstrado por nós na Cruz é que estamos capacitados, por Deus, a abandonar a prática do pecado e experimentar um relacionamento transformador com o Criador. A Bíblia diz em 2 Coríntios 5:14, que “o amor de Deus nos constrange”. Portanto, se queremos ser transformados, precisamos crer em Jesus Cristo. Somente o amor de Deus derramado em nossos corações é que nos liberta, capacitando-nos a buscar a santidade e a fugir do pecado, a amar a Deus e não, amar o mundo.

Alexandre Pereira Bornelli

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Olho por olho, literalmente.

Um caso ocorrido recentemente serve de exemplo à todos nós. Trata-se do caso em que uma iraniana perdoou um homem que jogou ácido em seu rosto há 7 anos, deformando-a e deixando-a cega, conforme matéria no link http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/07/iraniana-perdoa-homem-que-deformou-seu-rosto-com-acido.html. A vítima conseguiu uma sentença para que seu agressor pagasse o crime que cometera da mesma forma que o causou. Literalmente, seria olho por olho. A justiça determinou que o agressor também recebesse ácido em seu rosto e perdesse a visão total como punição do seu crime. Sua cegueira estava decretada. No entanto, usando seu direito e tendo suas razões pessoais, a vítima perdoou o agressor que foi poupado do castigo. Mesmo com sentença judicial a seu favor para ver seu agressor cego como punição pelo ato que fez, a vítima abriu mão de vingar-se e aceitou o dano sofrido, perdoando no último minuto. Imaginem a alegria do perdoado e porque não dizer, do perdoador também que se viu livre de mágoas e ressentimentos. O agressor está livre de perder a visão graças ao perdão que recebeu, mas continuará preso pelo crime cometido, com razão. Afinal, como a bíblia mesmo diz em Gálatas 6:7: “o perdão não anula a colheita”.
É inevitável lermos isto e não refletirmos no perdão bíblico. Sabemos que Deus nos perdoou incondicionalmente em Cristo Jesus, assumindo nossa culpa, sofrendo e morrendo em nosso lugar para nos reconciliar com Deus (II Coríntios 5:19 a 21). Sabemos também que devemos perdoar as pessoas sempre e incondicionalmente (Mateus 18:21,35 e João 6:14,15). Não devemos improperar, ou seja, perdoar sob condição, sob explicação, sob pedido de desculpas. Devemos assumir o dano. Isso é perdão. Qual a razão então de não estarmos praticando o perdão em nossos relacionamentos? Por que tantos casais vivem em guerra, tantos pais e filhos, os filhos entre si, parentes, patrões e empregados, amigos não se perdoam, não assumem o dano, não se reconciliam? Creio que é porque pensamos ter direito de vingança e a muitas explicações. Imaginem se Deus, para nos perdoar, exigisse de nós o que exigimos daqueles que nos ofenderam? Estaríamos eternamente perdidos sem o perdão divino. Mesmo que tenhamos as marcas de agressões sofridas, seja em nosso corpo ou em nossa alma, como a vítima do ácido ficou deformada para o resto de sua vida, precisamos perdoar por ordem de Deus. Não perdoar, alguém já disse: "é tomar veneno e desejar que o outro morra". É loucura religiosa pensarmos que mesmo não perdoando, conseguimos viver bem conosco mesmos e em paz com Deus. O verdadeiro cristianismo não nos dá a possibilidade de vivermos bem com Deus, se estamos amargurados e ressentidos contra o nosso próximo (I João 2:9,11). A prova de que estamos vivendo em paz com Deus é que também estamos em paz, sem amarguras, ressentimentos, contra as pessoas, sejam elas quem forem e o que nos fizeram (I João 2:10). Jesus sempre nos ensinou que devemos perdoar sempre, por toda a vida e isto, incondicionalmente. (Mateus 18:21)
Temos muito menos razões, deformidades e danos sofridos, do que a vítima do ácido para não perdoarmos alguém. Em contrapartida, temos infinitamente mais razões bíblicas para perdoamos aqueles que nos têm ofendido, porque também já desfrutamos do perdão divino. Porém, insistimos em manter uma religião (falsa) onde não queremos perdoar, mas queremos ser perdoados por Deus e pelos outros, onde não perdoamos, mas falamos que estamos bem com Deus, onde não perdoamos, mas mantemos uma postura de alguém que ama a Deus e ao próximo. Isso é religião e não cristianismo! Que Deus realmente nos liberte dessa vida deprimente e pecaminosa de não perdoarmos, de vivermos com amargura, nos agarrando ao direito carnal e pecaminoso de vingar, de retaliar e de não perdoar e achar ainda que estamos caminhado no conhecimento e na graça de Jesus Cristo. Assim como Deus nos perdoou em Cristo, assim também devemos perdoar uns aos outros.

Alexandre Pereira Bornelli