PENSAI NAS COISAS DO ALTO

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Orgulho-me da minha humildade

Não são poucas as vezes que escutamos alguém contando vantagem por considerar-se humilde. É algo estranho, mas acontece. Afinal, quem é humilde, verdadeiramente humilde, não pode se gabar disso sob o risco de perder a humildade. Jesus foi o exemplo máximo da verdadeira humildade. A Bíblia toda prova esta verdade. Mas, em Filipenses 2, existe toda uma concentração desta descrição. Por nenhum momento de sua vida, Jesus contou vantagem sobre milagres, curas, acontecimento que fez. Ao contrário, as pessoas queriam muitas vezes fazê-lo rei e Ele não as deixou por adiante tal projeto, por estar fora da vontade de Deus (João 6:15). Jesus não chamou a atenção para si, mas sempre deixou claro que veio fazer a vontade do Pai, que O enviou.
Aprendamos com Jesus o que é humildade então, vendo em Sua vida algo que apontava para outra pessoa, no caso Deus-Pai.
Porém, o que tem acontecido hoje em dia é que muitos cristãos cheios de si mesmos, procuram a todo custo fazerem-se grandes aos olhos da igreja onde reúnem, da esposa, filhos e da sociedade em geral. São pessoas que procuram atrair a atenção toda para si mesmas, vangloriando-se que fazem tudo certo, que são cumpridores da lei, dão dízimos, pagam impostos, pagam suas contas em dia, não olham com olhar impuro, são pacientes, bons maridos, boas esposas, ótimos membros da igreja onde reúnem, são sempre honestos, jutos, etc. Há aqueles que não têm sequer vida moral para se gabar e, por iso, são logo descartados, sua má intenção é desmascarada por uma vida marcada por problemas sociais, profissionais e relacionais. No entanto, há os que são, natural e moralmente melhores (naturalmente, repita-se). Essa classe de cristãos são os disciplinados, são aqueles que fazem as obras citadas logo acima. Essas qualidades naturais acima descritas devem fazer parte de todo cristão, mas nada tem a ver com santidade, que é onde vemos raízes da verdadeira humildade. Podemos ser bem qualificados, naturalmente falando, mas espiritualmente isso não traz benefício algum. O que tem ocorrido é que os cristãos naturalmente bem qualificados em termos de caráter (como alguns exemplos citados acima) são, em sua maioria, soberbos, orgulhosos por serem assim. Pensam que isso traz méritos diante de Deus. Colocam-se superiores aos demais. Orgulham-se por serem disciplinados, calmos, trabalhadores, honestos, bons maridos, ótimos vizinhos, etc. Deus procura ou procurou alguma vez pessoas assim? Não. Moralismo não tem nada a ver com santidade, embora a santidade leva-nos a sermos moralmente corretos. Mas, o contrário não é verdadeiro. Deus procura pessoas com coração contrito, quebrantado e não, com coração inchado pela justiça própria (Is. 57:15). Deus não se revela aos orgulhosos, àqueles que se gabam de suas qualidades naturais, mas sim aos humildes. Humildade é estar vazio de si mesmo, não tendo justiça própria, é estar ciente de que somos totalmente dependentes de Deus e que sem Ele nada podemos fazer (João 15:5). Humildade é também deixar que Jesus cresca em nós enquanto nós diminuamos em nossa vontade e justiça próprias (João 3:30). Consequentemente, é estar cheios de Deus. Nada de bom caráter, bons comportamentos externos, bons costumes, estrita observância a tradição religiosa tem valor a Deus. Que nos diga o jovem rico de Lucas 18, que tinha um curriculun natural impecável, mas, um interior condenável. Deus olha nossos corações, nossas motivações (I Sm 16:7). Por isso Paulo, que excedia a todos em qualidades naturais, concluiu que pela carne não tinha condições para atingir requisitos de santidade, escolhendo o caminho de conhecer o Senhor Jesus progressivamente, dizendo em Filipenses 3:9,9 : "...e ser achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem de Deus pela fé, para conhecê-lo e a virtude de sua ressurreição". Paulo podia se gabar de seu curriculun natural, mas viu que isso não valia de nada. Aprendamos com ele que o conhecimento progressivo e verdadeiro do Senhor nos faz humildes, por nos mostra, ao mesmo tempo, Sua Santidade e nossa pecaminosidade (Is 6 e Os 6:3).
Concluindo, trazemos o precioso ensinamento de Russell P. Shedd, em seu excelente livro Lei, Graça e Santificação, pag. 61: "Não é pela ambição humana que podemos aumentar a santidade, mas por Sua decisão, pela qual Ele a compartilha conosco. Deus se revela a quem quer conhecê-lo, a quem não se orgulha em sua própria justiça. Comunica-Se com todo homem que O busca de todo coração (Is 55:6)."
E, poucas linhas adiante, conclui: "Um indivíduo pode ser altamente moral, mas se a disposição do coração com que atua não corresponde àquela que Deus exige ou aprova, mesmo crendo que está no caminho para o céu, está no caminho largo para o inferno". Que nos gloriemos somente na Cruz de Cristo.
ALEXANDRE PEREIRA BORNELLI